COLÁGENO PARA ARTROSE NO JOELHO
De tempos em tempos surge uma nova moda de alguma coisa que promete tratar e até curar a artrose. É tentador para quem sofre com a doença a possibilidade de um tratamento que seja simples e acessível. Artrose no joelho? Só comer algum alimento ou tomar um suplemento que resolve! Bom se fosse fácil assim. A moda da vez, depois de passada a moda da condroitina e da glucosamina, é o colágeno. Você já deve ter lido ou ouvido falar que ingerir gelatina, pé de galinha, barbatana de peixe, cartilagem de tubarão, caldo de osso e suplementos de colágeno pode ajudar quem tem artrose nos joelhos. Mas será que isso é verdade? Ingerir alimentos ricos em colágeno ou suplementos de colágeno traz algum benefício para quem tem artrose nos joelhos?
ARTROSE
Artrose é o nome da doença degenerativa que afeta a cartilagem, o tecido branco e brilhante que reveste as extremidades dos ossos dentro das nossas articulações. A doença começa com o amolecimento da cartilagem ( condromalácia ) e pode progredir até o seu último grau ( grau IV ), quando os ossos da articulação doente ficam em contato direto ( osso com osso ). O joelho é a articulação mais afetada pela artrose. A doença provoca dor e limitação da mobilidade do paciente. O grande problema da artrose é que o tecido cartilaginoso não tem capacidade de regeneração porque é um tecido altamente especializado, com poucas células e avascular. O processo degenerativo da cartilagem é irreversível. A doença artrose ainda não tem cura conhecida.
SUPLEMENTOS
A ideia de ingerir suplementos de colágeno como forma de tratamento para a artrose surgiu da observação de que praticamente metade da matriz da cartilagem é formada por colágeno. Se a cartilagem está se degenerando, ingerir colágeno não poderia ajudar a evitar a progressão da degeneração ou, até mesmo, refazer a cartilagem que se desgastou? A ideia parece boa mas, na prática, infelizmente, não funciona.
COLÁGENO
O colágeno é a proteína mais abundante no reino animal. É a proteína que forma a matriz extracelular do tecido conjuntivo. O colágeno representa quase 1/3 das proteínas do nosso corpo. Ele é produzido dentro das células e polimerizado no meio extracelular num processo dependente da vitamina C. A molécula do colágeno é uma molécula grande, com a forma de uma tríplice hélice, contendo cerca de 3.000 aminoácidos. São 5 aminoácidos que formam o colágeno: glicina, prolina, lisina, hidroxiprolina e hidroxilisina. Existem 16 tipos de colágeno. No nosso corpo predominam os colágenos dos tipos I, II e III. Os tipos I e III são encontrados na pele, tendões, ossos é órgãos. O tipo II é encontrado na cartilagem das nossas articulações. O colágeno do tipo II é, portanto, o colágeno predominante na cartilagem dos nossos joelhos. Ele é produzido pelos condrócitos para a formação da matriz condral da cartilagem hialina.
TIPOS DE SUPLEMENTOS DE COLÁGENO
Existem no mercado 3 tipos de apresentação dos suplementos de colágeno: gelatina, colágeno hidrolisado e colágeno não desnaturado. A gelatina e o colágeno hidrolisado são os colágenos que foram pré-digeridos pelo processo da hidrólise, ou seja, foram quebrados pela água, cuja molécula foi incorporada na estrutura do colágeno. O colágeno não desnaturado, também conhecido como UC-II, é o colágeno que não foi pré-digerido.
DIGESTÃO
O processo de digestão das proteínas no nosso aparelho digestivo tem a finalidade de quebrar as moléculas proteicas que ingerimos nos seus aminoácidos constituintes. O intestino não absorve proteínas. Ele absorve os aminoácidos que formam as proteínas. Proteínas não digeridas não são absorvidas pelo nosso organismo e são eliminadas nas fezes. O nosso organismo não distingue as fontes das proteínas que ingerimos. Se você comer carne, peixe, frango ou feijão, por exemplo, as proteínas existentes nesses alimentos serão digeridas e sua decomposição irá liberar os seus aminoácidos constituintes, que serão absorvidos pelo intestino. Uma vez absorvidos, o nosso corpo usará os aminoácidos para sintetizar as proteínas que precisam deles naquele momento.
COLÁGENO NÃO É ABSORVIDO
A ingestão de colágeno é indiferente para a cartilagem porque não tem como ele ser absorvido no intestino, passar pelo metabolismo hepático, cair na circulação sanguínea e chegar na cartilagem de forma intacta. Devemos lembrar ainda que a cartilagem é um tecido não vascularizado, ou seja, não passa sangue na cartilagem, e que em pessoas com graus avançados de artrose a cartilagem nem existe mais. É uma ingenuidade pensar que basta ingerir colágeno para fortalecer ou regenerar a cartilagem das nossas articulações. Isso não é possível fisiologicamente. O colágeno ingerido não tem como chegar na cartilagem.
COLÁGENO NÃO É MEDICAMENTO
O Dr. Scott Gavura é um reconhecido farmacêutico canadense. Inconformado com a grande quantidade de produtos pseudocientíficos vendidos como medicamentos, que enganam as pessoas, ele começou a divulgar seus estudos e achados sobre o colágeno em 2.009. Ele faz parte da equipe de cientistas do Science-Based Medicine, um site onde estudiosos abordam questões médicas, particularmente aquelas relacionadas a práticas duvidosas ou perigosas. No seu artigo “ COLÁGENO: INVEROSSÍMIL SUPLEMENTO PARA DOR ARTICULAR “ ele explica que iniciou os seus estudos sobre o colágeno depois de ver a propaganda, num outdoor no centro de Toronto, de um suplemento de colágeno chamado Genacol®. Nas propagandas do Genacol® estava escrito: “ CIENTIFICAMENTE PROVADO PARA REDUZIR A DOR ARTICULAR “. Como farmacêutico de formação, ele decidiu se aprofundar nos estudos e comprovou que o suplemento de colágeno não funciona para a cartilagem e a divulgação de “ cientificamente provado ” se dá em cima de resultados duvidosos de ” trabalhos científicos ” muito mal elaborados e tendenciosos, feitos pela própria indústria. Os estudos do Dr. Gavura e vários outros estudos sérios mostraram que a ingestão de qualquer forma de colágeno não ajuda na manutenção nem promove a regeneração da cartilagem de quem tem artrose. O Dr. Scott Gavura alerta para o fato de que as pessoas podem estar sendo enganadas achando que estão tomando um medicamento porque o produto foi prescrito por um médico e é vendido em farmácias. Pior que isso, por falta de estudar mais o assunto e pelo bom trabalho dos propagandistas dos laboratórios, muitos médicos acreditam estar prescrevendo um medicamento para os seus pacientes. A maioria dos produtos contendo colágeno não é prejudicial à saúde. Algumas pessoas reclamam de dores no estômago, mal estar e diarréia quando tomam esses produtos. Mas o fato principal é que a ingestão de qualquer forma de colágeno não tem efeito algum sobre a cartilagem de quem tem artrose nos joelhos. A suplementação, na medicina, é usada para suprir a falta de algum elemento que está diminuído ou ausente no corpo. O colágeno é a proteína mais abundante que temos no nosso organismo. Não faz sentido algum suplementar o nosso organismo com a proteína mais abundante que ele tem.
FDA – FOOD AND DRUG ADMINISTRATION
Nos Estados Unidos o FDA ( Food and Drug Administration ) classifica o colágeno como um SUPLEMENTO ALIMENTAR, como a condroitina e a glucosamina. Nas embalagens dos produtos vendidos nos Estados Unidos é obrigatória a seguinte observação: O FDA ADVERTE QUE ESTE PRODUTO NÃO SERVE PARA O DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO, CURA OU PREVENÇÃO DE DOENÇAS. O FDA não aprova suplementos de colágeno para o tratamento de doenças da cartilagem.
MINISTÉRIO DA SAÚDE
No Brasil o colágeno é classificado pela ANVISA como ALIMENTO ( gelatina ) e na embalagem de preparados contendo colágeno deve constar a seguinte informação: O MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE – NÃO EXISTEM EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS COMPROVADAS DE QUE ESTE ALIMENTO PREVINA, TRATE OU CURE DOENÇAS.
EFEITO PLACEBO
Algumas pessoas relatam que sentem alívio das dores nos joelhos artrósicos quando tomam suplementos de colágeno. Isso só é possível pelo efeito placebo porque, como vimos, o colágeno ingerido não é absorvido e não tem como chegar na cartilagem dentro das articulações. Gelatina não é remédio! A molécula do colágeno não é analgésica nem anti-inflamatória. O efeito placebo é uma reação real a um medicamento falso. A pessoa pode sentir alguma melhora pelo efeito psicológico criado pela expectativa de melhora com a ingestão do suposto remédio.
ALTOS LUCROS
O colágeno é produzido, mais comumente, pela raspa do couro dos animais abatidos nos frigoríficos. Carcaças de frango também são usadas. O material colhido é processado quimicamente e transformado em pó, que é vendido em sacas para as indústrias de alimentos, medicamentos e cosméticos. A margem de lucro nessa primeira venda já é alta. O lucro da indústria farmacêutica ao revender o colágeno para o consumidor final é superior a 1.000%. A venda de suplementos de colágeno é um negócio milionário.